Óleo Essencial de Cravo

O óleo essencial de cravo, extraído dos botões floríferos, apresenta um rendimento atipicamente alto, pois uma colheita de cravo que produz 1200 toneladas de botões e 300 toneladas de talos rende, aproximadamente, 18 toneladas de óleo essencial. É extraído preferencialmente pelo método de arraste a vapor, afinal, industrialmente falando, é ele que oferece as maiores quantidades de eugenol (dentre outras vantagens). Entretanto, é a hidrodestilação, processo praticamente em desuso, que oferece o óleo com o aroma mais delicado, embora com menos eugenol. Possui coloração amarelada, que se torna mais escuro e espesso com o tempo, de cheiro próprio, sabor acre e cáustico, anestésico. Dentre os seus constituintes, são três os predominantes, o eugenol, de 70 a 90%, o acetato de eugenilo, de 10 a 15% e o humuleno e cariofileno, de 5 a 12%. Juntos, eles representam 99% da sua composição. Entretanto há, ainda, os constituintes menos expressivos, como metil-heptil-cetona, carbinol, álcool benzílico, salicilato de metilo, aldeído coniferílico, vanilina, metil-amilcetona, entre outros. Por conter basicamente compostos fenólicos, quimicamente o óleo cora-se pelos reagentes habituais, como cloreto férrico (cor verde), ácido sulfúrico, etc. Mas também são indicadas reações de precipitação com a amônia (massa cristalina de cor amarela), hidróxido de cálcio (precipitado flocoso amarelo) e bromo. E para dosar o eugenol livre, costuma-se utilizar o processo baseado na solubilidade no hidróxido de potássio a 5%.

O óleo essencial de cravo é um óleo muito versátil, o qual vem sendo empregado pelos mais diversos ramos da indústria. De marcante efeito anestésico local – exercido em grande parte pelo eugenol, trata-se de um elemento bastante utilizado em formulações para amenizar processos dolorosos. A respeito disto, aliás, devemos citar que o mecanismo de ação do eugenol ainda está sob investigação, porém, estudos in vitro indicam que ele exerce efeito agonista sobre o ácido gama-aminobutírico (GABA) e antagonista sobre o glutamato, que atua sobre os receptores N-metil-d-aspartato (NMDA), ambos com grande relevância na transmissão da dor. O GABA, inclusive, é o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, que causa anestesia e redução dos movimentos respiratórios e dos batimentos cardíacos. Além disto, o óleo de cravo é capaz de inibir a atividade das enzimas COX-2, que está ligada a produção de prostaglandinas, em até 58% – atuando, portanto, como um anti-inflamatório. Diante disto, é comum – tanto na indústria farmacêutica como na aromaterapia, seu emprego em formulações para dores de dente, inflamações bucais, reumatismo e artrite. Afirma-se, também, que por estimular o sistema circulatório, o óleo de cravo é um excelente afrodisíaco – sendo útil nos casos de impotência e frigidez. E mais: de acordo com Tao (2005) em “Eugenol and its structural analogs inhibit monoamine oxidase A and exhibit antidepressant-like activity”, o óleo essencial de cravo – através de um mecanismo de ação semelhante aos antidepressivos comerciais brofaromina, moclobemida e toloxatona – também possui propriedades antidepressivas. Afinal, tal como eles, este óleo é capaz de inibir o trabalho da monoamina oxidase (MAO), que são as enzimas responsáveis pela degradação dos neurotransmissores serotonina (5-HT), noradrenalina (NA) e dopamina (DA) na fenda sináptica; ocorrendo uma “elevação” deles no organismo. Ora, como estes neurotransmissores (5-HT, NA e DA) estão diretamente relacionados com as sensações de prazer e bem-estar, é óbvio que este “aumento” é capaz de produzir um alívio direto dos sintomas da depressão.

Conforme Janssens (1990) em “Nutmeg oil: identification and quantitation of its most active constituents as inhibitors of platelet aggregation”, o óleo essencial de cravo, por conta do eugenol, é um excelente agente antitrombótico, afinal, inibe de maneira satisfatória a agregação plaquetária, tal como faz a aspirina (Ácido Acetilsalicílico – AAS). Assim sendo, este óleo é capaz de prevenir a formação de coágulos, podendo atuar como coadjuvante no tratamento de eventos adversos cardiovasculares em pacientes portadores de Doença Arterial Coronariana (DAC), prevenção de AVCs e outras doenças. Ainda, o óleo de cravo apresenta um importante efeito antibacteriano e antifúngico, pois mostra-se ativo contra Escherichia coli, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus, Candida albicans e vários outros agentes patogênicos – inclusive, afirma-se que uma combinação de eugenol com fluconazol (a droga frequentemente utilizada no tratamento da candidíase) é muito eficaz contra formas resistentes de Candida albicans. Diante disto, muitos aromaterapeutas indicam a sua vaporização em ambientes com o intuito de eliminar fungos e bactérias. Também, em uma pesquisa com ratos, ele reduziu significativamente as lesões provenientes de úlceras gástricas, indicando, talvez, um possível efeito gastroprotetor. Ainda, na indústria de perfumaria, o óleo de cravo está presente em diversas fragrâncias, como no Kouros, criado em 1981 por Yves Saint Laurent, o Miss Dior (1947), de Dior e Zaad (2007), de O Boticário. Na de cigarros, é o ingrediente chave na fabricação do kretek, ou cigarro-de-cravo, um produto extremamente popular na Indonésia cuja produção, a nível mundial, chegou a 67 bilhões de unidades em 1982. É, também, utilizado na aromatização de diversos doces e bebidas e, quando combinado à laranja e ao limão, trata-se de um ótimo repelente de insetos. Por fim, Tisserand e Young (2014) em “Essential Oil Safety” recomenda, como concentração máxima para formulações de uso tópico, 0,5% deste óleo (com 96,9% de eugenol).